(ou: o texto abaixo foi encontrado abandonado num computador em uma pequena cidade ao sul do mundo)
Retratar a experiência em se assistir A Bruxa de Blair, de 2016, em 2016, é algo muito similar à experiência em 1999, com o primeiro filme.
(Se eu tivesse feito uma resenha naquela época, me restringiria a um "copy/paste" agora.)
Vou tentar me ater à narrativa sensorial que o filme se propõe - e juro que não vou mais reclamar das baterias de câmera que nunca acabam, dos cartões das câmeras que nunca enchem, e da discrepância da montagem entre "quem filma" x "quadro filmado". Ou seja, da diegese que sutilmente deixa claro que o que vemos não aconteceria dentro das condições do nosso plano tecnológico-material.
Vou tentar me ater ao terreno que motiva os personagens a tomarem decisões que nem eu nem você tomaríamos nas dadas circunstâncias da história do filme.
Vou tentar me calar e não dizer que o filme perde a chance de emocionar por, em dados momentos, simplesmente nos levar a pensar as opções tomadas pelos roteiristas nas atitudes dos personagens - e assim nos afastar da imersão fílmica.
Vou tentar falar de que certas obras audivisuais ganham muito se estão devidamente acompanhadas de um ambiente oportuno (e eu SEI que nunca vou ver/rever esse filme, tal qual Atividade Paranormal, em casa, à noite, sozinho, por motivos infantilmente emocionais - e provavelmente nem de dia, mesmo que acompanhado, por motivos puramente racionais.)
Em algum momento desse texto eu preciso dizer que o filme em certos momentos sai do gênero "terror" e adentra um subgênero pouco visitado, que é "angústia" - se é que isso existe.
Mas nunca vou assumir que, durante o filme, várias vezes, olhava para o lado e pensava "que bom que estou numa sala de cinema; que bom que tem mais pessoas por perto; e que bom, Senhor, que virei o rosto e não tinha nenhum vulto se esgueirando na minha direção."
(o texto se interrompe aqui)
Glauber Gorski