domingo, 28 de julho de 2013

Rockshow é Show


Que tal fazer uma viagem no tempo e ficar por duas horas no meio de fãs de um ex-beatle, se deslumbrando com a performance mais-que-perfeita da banda The Wings, se deliciando com melodias e performances pra-lá-de-generosas, e ao final sair enebriado com a sensação de que aquele tempo também é hoje, ao nos depararmos com as possibilidades tecnológicas do pós-modernismo?

Rockshow (Rockshow - EUA - 1980) – propôs isso, na tela gigante de um cinema, em salas e horários especiais, e nos melhores home-theaters das casas de quem sabe o que é bom.

É muito interessante olhar à distância, ou se deixar levar pela passagem do tempo, e ver o desempenho preciso de uma banda que transita muito à vontade pelo limite entre o pop e o rock, sem esconder uma escola jazzista, que se vale do prazer em se estender versões de canções pelo prazer de deixá-las viverem segundos ou minutos a mais além do formato radiofônico comercial (o movimento progressivo mergulhou a fundo essa possibilidade).


O fruto colhido na época - 1976 - por conta da turnê, foi um LP triplo. 4 anos depois viria o video do show, com 1h 40min, e agora restaurado com 2h 14 min.

30 canções. Algumas você não vai (re)conhecer; outras você vai querer cantar junto.

E todas são integralmente executadas com uma energia plena de todos os integrantes - com destaque para o baterista Joe English e o lead guitar, multi-instrumentista e carismático Denny Laine.

Fruto do resultado do movimento de uma época, quase 40 anos depois soa atual.

O que credencia o show, definitivamente, com um clássico.

Indicado a: fãs e não-fãs do bom e velho Macca. Para quem gosta e para quem precisa conhecer o conceito puro do “quem sabe faz ao vivo”.

Quando o Transcriar Preciso é Imperfeito


Dentre os diversos tipos de suporte narrativos, os das chamadas “Sétima Arte” e “Nona Arte” são, disparados, os que mais me atraem.

Seguidos, à uma distância segura, da “Décima Arte”.

E bem distantes da “Segunda Arte” e da “Quarta Arte” – mea culpa.

Digo isso para poder explicar que transpor uma narrativa, de um suporte – ou “arte”, como queira – para outro é, por vezes, uma tarefa de transcriação, como diria Paulo Leminski. Uma tarefa que é uma arte em si – ainda sem categoria reconhecida.

Considerando que a forma de expressão, no caso de uma narrativa, pode banhar-se em seu suporte, fazendo com que as limitações e delimitações de dado suporte se envolvam plenamente desta narrativa, é visível, em casos extremos, da impossibilidade de se levar a mesma história – ipsis literis – para outro suporte, sem correr qualquer risco de perda ou da necessidade de reparação.

Ficar no meio do caminho – não se utilizar de toda a força narrativa que cada suporte pode propor – significa ficar a meio caminho da emoção.

Por mais perfeita que seja essa transcriação.

É o caso do exemplo máximo visto em Wolverine: Imortal (The Wolverine – EUA – 2013), um produto para deleite consumista, com áura de pretensão, e que é, efetivamente, um excelente caso de perfeita transcriação.


Uma obra correta, corretíssima, que coloca personagens e situações que vivem e sobrevivem segundo as regras pré-estabelicidas no universo X-menmarveliano. Uma obra que sobrevive por si só, à revelia das outras 5 obras que tiveram a participação do herói-nervo-exposto; uma obra que permite-se apreciar sem que fosse pré-requisito conhecer a gênese mitológia dos quadrinhos oitentistas de Frank Miller, semente da história.


Mas, como reflexo de se andar no caminho do meio-risco, é um filme que não te tira da poltrona do cinema. Te deixa ali, apreciando os 120 min do filme, sem te fazer esquecer que você está ali, enquanto o filme está lá.
É um jogo seguro, mercadologicamente falando, ter filmes assim na sala de cinema.
Mas fica a sensação de que, se ao empatar não se perde, também não se ganha – logo, se perde outras coisas, como tempo e oportunidade.

E, ao final de qualquer sentimento impressionista que se permite ter ao se deparar com narrativas, como sempre, a ineficiência emocional, que não sai da tela fica sob responsabilidade da falta de empatia junto aos dramas dos personagens.
Logo, irresponsabilidade do roteiro, este sim objeto mais relevante em qualquer demanda transcriativa.

Indicado a: fãs do personagem, curiosos e quem não entendeu o meu texto.

sábado, 13 de julho de 2013

Deus ex Machina - #SóQueNão


Sentar-se passivamente e deixar rolar uma história à sua frente, numa tela grande, com som alto, é permitir-se sonhar um sonho compartilhado. Mas a nossa mente não fica tão passiva assim, a ponto de aceitar tudo como vem; de um jeito que não é possível calar a crítica interna, sempre atenta.

Crítica esta que diz respeito tão-somente à expectativa de se deixar participar emotivamente de dada história, mas com a razão acompanhando ao lado, verificando se a “regra do jogo” está sendo respeitada.
E a “regra do jogo” consiste em se entender que os personagens e o ambiente fazem parte de um mesmo universo – raramente ou quase nunca é esse universo que eu e você habitamos, mas ainda assim um universo com suas próprias regras.

Respeitando-se isso, basta a obra à nossa frente trabalhar somente com nossas emoções.

Eis a fórmula da obra-prima!

Mas – sempre há um mas em meus pensamentos – “sentar-se passivamente” é a busca pelo exercício zen de ter a mente livre, limpa e serena, com a “xícara-devidamente-vazia”, para que se encha satisfatoriamente com o novo que se apresenta à sua frente.

Um exercício que não consegui aplicar quando me reclinei no agradável estofamento do IMAX  e coloquei o par de óculos para desfrutar da hiperrealidade do 3D, pois, assim que o filme começou, me incomodou eu não estar imerso no contexto do filme.

Por duas faltas. Uma minha e outra do exibidor.

Da parte do exibidor a culpa é tripla: a tela é grande demais para um filme que foi rodado em 35 mm, deixando desta forma a imagem “lavada”; o 3D é extremamente fajuto, não justificando ficar duas horas e meia com um par de óculos para desfrutar quase que somente legendas em destaque; e o aspect ratio estava errado no projeção, deixando tudo espichado, e todos os personagens ficaram “um pouco gordinhos” – Laurence Fishburne mais gordo que os outros.

Da minha parte, a culpa maior: a obra de 1978 é extrema e pontualmente marcante em minha memória emotiva (já está distante aquele “sonho compartilhado” que tive numa noite de sábado, na tv, no início dos anos 1980, mais ainda vive livremente entre minhas “memória & imaginação”).

Gostaria de não ter assistido aos dois primeiros filmes estrelados pelo saudoso Christopher Reeve para poder ter apreciado, com todos os méritos, a O Homem de Aço (Man of Steel – EUA – 2013)

Toda cultura de um povo, de uma nação, quando passa por um período de sofrimento, não sabe que aquilo é somente um período, mas parece viver um presente que se extenderá à eternidade.
E a salvação, para um povo que sofre e perece na luta, parece que não virá de outro lugar que não seja do alto, na esperança que um deus maior mande um representante para salvar este povo.
Ora para que a esperança deixe de ser verbo e se transforme em carne.

Uma carne imortal. Ou tão indestrutível quanto o aço.

Ora para que esse deus envie sua maior arma para defender os justos, os menores e sofredores. Ainda que, ao enviar essa divindade encarnada, ela venha a conhecer o suplício da carne e venha temer seu destino.

Isso vale para a ideia que a nação judaica desenvolveu há mais de três mil anos - e que os cristãos acataram há dois mil.
Isso vale para a Terra que tem uma cidade chamada Metrópolis, com um povo que, tal qual o americano médio dos anos 1930, passe pela necessidade de um salvador.

Vale para um povo que não tem em sua história um herói com a referências de força para mudar e transgredir que o povo escocês tem com William Wallace, que o povo francês tem com a figura da Joana D’Arc. Um herói que destõe de seu tempo como japonês tem com Miyamoto Musashi, que o chinês tem com Wong Fei Hung, que o espanhol tem com El Cid, que uma América Latina inteira tem com um Che Guevara, que o brasileiro tem (sim, tem!) com o composto mix de um Tiradentes, Max Wolf Filho, Dom Pedro I, ou mesmo que localmente, de um Barão do Cerro Azul.

São figuras históricas que servem de referência a um povo em momentos de luta e luto.

Mas, para a mente humana, lembrança e imaginação por diversos momentos convivem na mesma sala. 

E a esperança acaba sendo imputada na mente criativa de contadores de história.

Ponto para a raça humana!

E, como força impulsora tanto faz o quanto é real ou imaginário o personagem que habita a conversa entre fiéis. O sucesso de ambos – e outros – arquétipos prova a força de uma linguagem universal.

Lembre-se que o deus-Sol é fonte de força, nos alimenta, revigora nossa vitalidade e esperança, traz vida e mudança, serve até mesmo de alimento, como as palavras de um um deus-pai, ou um sábio-pai. 

Seja ele biológico ou emocional.

É o mesmo Sol que queima vampiros e que dá forças infinitas para quem defende a verdade. 
É o mesmo Sol que ilumina as trevas da alma, joga luz sobre sombras que nos enfraquecem e nos matam.
É o mesmo Sol que alegra um país tropical.

Assim aconte com a Lua, aqui destruída em Kripton, que denota o horror em se matar a imagem da figura materna. E a saudades será eterna, mesmo para um deus-homem que mantém contato com a ideia-pensamento de seu pai.

E é justamente nesse ponto que a sensação de “pertença” do herói com vestes de realeza caminha, ou volita, sobre um muro estreito na obra de Zack Snyder; pois, apesar da diferença com o universo criado para Bruce Wayne na visão turva de Christopher Nolan, onde temos personagens que não se encaixam em seu ambiente (Gotham City, cadê você?), fazendo parecer o cavaleiro das trevas uma figura patética e risível vestindo uma fantasia, o Clark Kent/Superman sutilmente justifica sua figura - e ela também é justificada em seu ambiente – bem como toda sua desenvoltura superfísica – mas o problema é que o povo da Terra/Metrópolis parece não estar tão carente deste herói, nos dias da Metrópolis de hoje (valei-me David Dunn e Hancock!).

Obviamente que todo este meu pensamento é elaborado agora, enquanto escrevo, pois a força narrativa do filme não dá espaço para se perder em divagações em tempo real.


O Homem de Aço é um filme que funcionaria do mesmo jeito – talvez até melhor – mesmo se o filho mais famoso de Krypton na Terra não fizesse parte dele.
Poderia até mesmo ser a mesma história ambientada no universo de zumbis, espartanos, corujas ou internas dentro de um sanatório.
E apesar da força da obra, ainda assim, é uma peça menor, até o momento, do cineasta em atividade que mais me empolga na atualidade, ao lado de Yimou Zhang e dos irmãos Wachowski.

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Crueldade extrema: o início do filme, em Krypton, nos dá o tom de Gladiador + Thor, dá uma passada em Avatar no mundo de John Carter e termina com a plantação de gente de Matrix, com a estética de Prometheus.
E você verá, sim, um gordo Morpheus, onde Neo o salva mais uma vez no último segundo.
(Ver filmes demais, realmente, pode atrapalhar o processo criativo. Seja como realizador, seja como espectador. Não é mesmo, señor Buñuel?)

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Quando um filme-pipoca consegue levantar tantos pontos dispersos, ponto para o filme, que transcende sua proposta.


O título do meu post, a título de curiosidade, refere-se ao conceito Deus Ex Machina

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Um último atrevimento: vou rever o filme no cinema, em 2d, em cinema “normal”. Lembrando de chegar devidamente 20 min atrasado. Não sem antes me deslumbrar novamente com a Krypton do mestre multiversátil Richard Donner.

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Atualização 1 - Faz uma falta extrema a trilha sonora de John Williams, que tem em Superman o tema que mais me anima, além da trilha toda ser deslumbrante - Hans Zimmer continua sendo Hans Zimmer: é o bom-igual de sempre.

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Indicado a: quem nunca viu os filmes da franquia estrelados pelo Christopher Reeve; quem gosta de filmes de ação e não dá tanta importância para a gênese criativa; quem é fã do Superman dos quadrinhos e curtiu um tanto Smalville.

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De Jack Sparrow e Tonto Johnny Depp tem um tanto. Mas um tanto demais para um filme de menos...


A necessidade de indexação a que estamos submetidos permite, sempre, que algumas obras rompam, quebrem, deslumbrem e reinventem gêneros. Não é difícil encontrar dramas que nos fazem rir, aventuras que nos assustam e comédias que nos levam às lágrimas.

Mas para que isso aconteça é preciso contar que a mão do artista se imponha sobre o tronco gelado da indústria.

Procurando ser generoso, colocarei O Cavaleiro Solitário (The Lone Ranger – EUA – 2013) na estante de filmes Fantasia, tentando favorecê-lo como obra menor ao lado de pérolas como O Barão de Munschausen”, As Sete Faces do Dr. Lao (valeu, generoso Neri) e Os 5.000 Dedos do Dr. T.

Mas, diferente destas, o universo concebido para ambientar as desventuras deste icônico personagem é disforme. Toda uma aventura original cai quando se desfila uma série de clichês do subgênero aventura faroeste.
Todo um filme de clichês cai quando se desfila uma série de piadas internas, com momentos-paródia. E nem isso se sustenta quando o nonsense é questionado por uma criança de 10 anos a um índio velho, e enquanto este polvilha migalhas para um pássaro morto, dá às costas para a criança e, por consequência, faz o mesmo com o público.

Claro que, no conforto da poltrona, fica fácil resolver problemas que centenas de profissionais (muito bem) pagos tentaram durante meses, e não conseguiram.

Sei que, futuramente, verei um fanedit recut dessa peça de Gore Verbinski.
Eu mesmo faria duas obras distintas: uma constando todo o humor explícito da obra, excluindo o restante da trama; e outra excluindo todo este humor, fazendo uma lipo do restante da obra.
Mas ambas as versões não teriam o velho Tonto, certamente.

O Cavaleiro Solitário é um filme tonto, feito por tonto, para o Tonto.

Solitário mas não sozinho na busca pelo dinheiro aparentemente fácil que o entretenimento caro parece gerar e devorar.


Indicado a: quem quer ver Jack Sparrow fantasiado de índio e quem não sentiu vergonha alheia em Indiana Jones e a Caveira de Cristal.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Meu Favorito Meu Malvado Favorito é Meu Malvado Favorito 2


Toda história criada sai do zero e caminha em direção à plenitude por uma de duas vias: ou se tem um evento que seja interessante – e a partir daí se busca personagens que dêem vida e credibilidade e charme e o que mais for preciso para essa história ser plena de interesses; ou se concebe personagens interessantes, com características que valem ser conhecidas, reconhecidas, identificadas, reprimidas, desejadas ou rejeitadas  – e aí então se vai atrás de eventos que, de forma original e divertida e casuística e o que mais for preciso, irão revelar elementos que não estão visíveis numa primeira leitura desses caracteres.


É se utilizando desta segunda forma que acontece com Meu Malvado Favorito 2 (Despicable Me 2 - EUA - 2013): o sucesso do primeiro filme acontece – como qualquer coisa que faça sucesso – por fatores somados e também alheios ao desejo do realizador (afinal, todo filme busca o sucesso, mesmo que em seu estreito universo, como os chamados “filmes-de-arte”). E é notório que, para que a “continuação” ganhe vida, ou se faz uma releitura do primeiro filme, ou se revisita os personagens em outros ambientes/situações (ou simplesmente “se continua” a história, como poucos nas cinesséries de sucesso).
É também a segunda forma a opção dos realizadores, que nos envolvem no mundo de Gru, que revela o destemor em se assumir enquanto personalidade, realizando tarefas "por opção e critérios próprios ao coração", mesmo que envolto em situaçãos que exijam "o pior de si".
E tudo é louvável - moralmente falando - quando o fim benevolente se vale de metodologias não tão benevolentes assim (!!!).
Um tipo de personagem que me apraz em ver com outras roupagens.


Vale a diversão, com muita cautela ocular nas sugestões subliminares.

Indicado a: criançada em geral, mesmo que habitem em corpos maduros.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Uma Luz na Escuridão do Cinema de Ficção



Encontrei uma obra rara como ela só: um filme que promete muito, promete demais, alimenta uma ansiedade e tem atrás de si uma “primeira parte”, um primeiro filme muito bem acabado, uma obra muito acima da média.

Uma obra que promete exageradamente muito – e acaba por entregar MAIS!

A cena de abertura de Além da Escuridão - Star Trek (Star Trek Into Darkness - EUA - 2013) por si só vale o dobro do ingresso, pois além de entrar imediamente em ação, faz uma homenagem, quase sutil, quase descarada, para a abertura de Caçadores da Arca Perdida (Raiders of the Lost Ark - EUA - 1981)


A sensação da satisfação em ver personagens que não tem a obrigação de dizerem a que veio – mas que estão em ação O TEMPO TODO, vivenciando cada situação artesanalmente construída no roteiro, conseguiu fazer com que eu me perdesse no meio de uma trama, embriagado pelo deslumbre visual, atônito em entender aonde a trama estava me levando – raramente a obra permite “enxergar do alto”, criando um prazer racional e emocional ao mesmo tempo.


Talvez seja uma obra filha de seu tempo, um zeitgeist febril da efervecência que o sci-fi gera em um público que é, per se, exigente – mas isso só poderá ser devidamente avaliado à distância, temporalmente falando.


Meu título, superlativo, é um elogio ao resultado o J.J. Abrams conseguiu impor a Star Trek II – A Ira de Khan (ops! Este era de outro gênio: Nicholas Meyer!), em detrimento do descartável e desprezível Depois da Terra (After Earth - EUA - 2013) e do quase-ótimo/esquecível Oblivion (Oblivion - EUA - 2013).

O realismo e a naturalidade com que o CGI é impingido por Abrams consegue – quase – reindexar o filme, passando de “Ficção Científica” para “Realismo Fantástico”.

Não é para pouco. E é dos poucos que me rendo ao 3D. Obrigatório para o total aproveitamento do filme.



Indicado a: trekkies, entusiastas pela ficção científica, público de filmes e ação em geral.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Uma Continuação Que... Continua. Como uma vida que não para.


É incrível o prazer que eu posso ainda ter com um cinema simples, feito por gente madura, de realização enxuta e construção complexa – tá, deu para entender o porquê do meu prazer... Mas é que, após ter passado por uma série de filmes rasos, à excessão do quase-perturbador, excelente e incômodo O Lugar Onde Tudo Termina - The Place Beyond The Pines - EUA - 2012) e dos bons pero descartáveis (Em Transe - Trance - UK - 2013 e Terapia de Risco - Side Effects - EUA - 2013), me deparo com o terceiro filme de uma cinesséria que relata algumas horas da vida de um casal:



Antes da Meia-Noite (Before Midnight - EUA - 2013) é obra com gente interpretando gente de verdade, gente que não se encontra nas esquinas da vida, mas nas sombras das relações, entre meias-verdades ditas em meio a meios-sorrisos, em sujeitos presentes que estão com os olhos para o futuro mas com o verbo sendo dito no tempo passado.

O filme se movimenta como um organismo humano, de digestão precisa e reações químicas esperadas e surpreendentes.

É uma obra com o tamanho e a profundidade do homem.

Se revela de forma plena e sintética.

Se expande em direção a um horizonte inevitável e interminável.

Caminha no sentido que a vida se impõe.

Com os pés em movimento, onde um membro revela a pegada que deixou e o mesmo aponta o terreno que irá pisar - enquanto o outro membro todo o corpo sustenta.

É como ouvidos que nada filtram, e ainda separam a informação que é recebida, mandando metade do contexto para a mente, e a outra metade para o coração.

Antes da Meia-Noite é o que acontece entre o entardecer da juventude e o amanhecer da maturidade.

Um preâmbulo da longa noite da alma.

Com direito a todos os colapsos psicológicos pertinentes às resistências percebidas em indivíduos que relutam em mudar e não conseguem deixar de serem eles mesmos.

Tal qual eu.

Tal qual você.

......................

Indicado a: gente madura e sensível. Gente imatura e que ainda tem esperança em, quem sabe, um dia, viver e deixar viver.

Da Universidade Para o Mundo


De todos os aspectos que justificam uma narrativa, a mudança de perspectiva do protagonista, aliada a um rito de passagem, resultando num aprendizado que o modifica, são os elementos mais importantes para que uma história ser passada adiante.

Perdendo somente para a tragédia.

Não que a tragédia não esteja presente em Universidade Monstros (Monsters University - EUA - 2013) – ela está lá, mas não vem à tona, pois não é a camada relevante ao universo retratado.


Entrar em contato com cada filme da Pixar, seja um curta ou seja um longa (o curtametragem O Guarda-Chuva Azul, que antecede o longa, já justifica o ingresso.)

Me pergunto, a cada pequena obra, que nunca é pouca, que a turma da Pixar transforma em vida, o quanto eles realmente se importam com a narrativa, colocando-a acima de qualquer resultado estético (a excessão Carros 2 vem confirmar esta regra).

A história, pregressa à jóia de 2001, transita e percorre uma trilha quase comum, já antevista em outras obras (se assemelhando e se espelhando, estruturalmente, na curiosa comédia A Escolha Perfeita (Pitch Perfect - EUA - 2012). Se assemelha sobremaneira, até que surge uma bifurcação na narrativa, na terça parte final da história, e um dos personagens resolve parar e rever atitudes e diretrizes...


Universidade Monstros, além de divertir, acaba por ensinar – e faz escola, como a – quase – totalidade da filmografia dessas sumidades docentes; um subgênero cinematográfico que é sempre agradável ao grande público.

Transite pelo universo onde todos os persoangens tem algo a aprender e a ensinar – mas saliento que nem todos aprendem o tempo todo, fundamento base de uma boa comédia.


Como sempre, vou aguardar com ansiedade a próxima classe desses professores da narrativa, que se utilizam da lousa virtual e lúdica para continuar a ensinar.

E, como todo filme da Pixar, dispense o uso de óculos 3D e vá ver uma sessão dublada, para seu deleite visual.

Indicado a: TODOS os públicos.

Para saber tudo: http://www.imdb.com/title/tt1453405/