domingo, 27 de janeiro de 2013

Um Conto Infantil Feito Com Adultos Para Adolescentes

Inevitável. Essa é a palavra-chave para entender o porquê da relização de obras modernas com uma premissa clássica. A caixa registradora tilintando abafa qualquer crítica que seja feita à falta de criatividade - ou melhor dizendo, de originalidade - sobre alguns filmes que sempre insistem em chegar aos cinemas e impedem a divulgação maior de obras menores, mas mais importantes.


Analisar João e Maria (Hansel & Gretel - Alemanha/EUA - 2012) implica em entender o movimento financeiro que acontece por detrás do cinema enquanto indústria. A busca pelo certeiro com uma maquiagem do novo é um investimento de baixo risco. Some a isso a obra estar alinhada com o que há de mais moderno em termos de tecnologia de produção e exibição.

Benevolentemente chamo isso de um ensaio, uma ante-sala das possibilidades técnicas que serão investidas em filmes que se prestem a contar um algo-a-mais. Sou bem generoso e condescendente com o cinemão americano, que treina seu departamento técnico o tempo todo.



E mais uma vez a bruxa ganha a cena. Valeria investir uns cobres para ver as encarnações do mal personificas por Muriel e Ravina, num crossover entre "João e Maria" e "Branca de Neve e o Caçador".
O pega seria bom!

Eu mesmo torceria para a que se revelasse mais malvada.

E antes que me chamem de fetichista, deixo aqui o questionamento: por que antigamente as bruxas eram retratadas como sendo feias e decrépitas?!?! (na composição fotográfica: Charlize Theron em "Branca de Neve e o Caçador" e Famke Janssen em "João e Maria")
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Resumidamente: um clássico eterno numa obra perecível.

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Indicado a: moçada nova que curte um Walking Dead, se dedica horas à frente de um game buscando o headshot perfeito e que ainda não descobriu o gore clássico.

Contra-indicado a: quem leva a ida ao cinema um pouco a sério demais - e não tão demais...

Para saber tudo: http://www.imdb.com/title/tt1428538

De Mestre Todo Discípulo Tem Um Pouco

Fico curioso de mim mesmo quando uma obra fílmica me pega alguns dias depois de já tê-la visto.
O Mestre (The Master - EUA - 2012) fez o que poucos filmes conseguem fazer: fica bom depois de algumas horas depois de ter terminado.
E excelente após alguns dias.


Sou sincero quando digo que a primeira impressão do filme não foi das melhores. Uma certa insatisfação, algo incômodo, uma leve certeza de uma incompletude intencional por trás da obra de P. T. Anderson. Somente poucos, como Buñuel, Lynch, Fincher, Carpenter, Amenábar e mais uns 2 ou 3 "menores" conseguiram esse êxito comigo.

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O Mestre é o momento que o cinema consegue a proeza inata de ser arte, uma obrigação menor deste suporte narrativo.

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Não tenho muita vontade de falar mais sobre a obra.
Não merece ser discutida.
Merece ser sentida e digerida a longo prazo.

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Indicado a: quem busca um cinema que não acabe quando a projeção termina.

Contra-indicado a: quem curte diversão processada e tem uma preguiça gigante, um medo incômodo em se deixar enxergar como indivíduo numa sala de cinema.

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Para saber tudo: http://www.imdb.com/title/tt1560747

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Quando A Emenda Sai Melhor Que O Soneto

Diferente do que o título pode sub-sugerir, Lincoln (EUA - 2012) não é uma cinebiografia do famoso presidente norte-americano, mas um recorte de sua vida, centrado no evento maior de sua participação na história daquela que viria a ser a "maior nação do século XX", segundo entendimento de alguns: a abolição da escravatura, via 13ª Emenda na Constituição.


A obra é consoante à filmografia de Spielberg, que tem um compromisso dividido entre seus prazeres cinéfilos, sua causa judaica e seu dever cívico.

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Diferente de suas grandes obras, onde a temática mais universal transcende as fronteiras dos EUA, aqui o assunto é mais doméstico, extremamente doméstico. Tão doméstico que boa parte do filme é a situação familiar que o núcleo Lincoln se encontra.
E é aí que seu discurso passa a ser universal.

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Sendo trabalhado dentro de um gabarito estético, as sutilezas e a verossimilhança dos diálogos - aliado ao fato de que todos os personagens tem uma frase de efeito, um quê de dizer algo que não seja indigesto ou etéreo - fazem das duas horas e meia um prazer intelectual, tangenciando de leve o elemento emocional, por vezes atrapalhada pela própria trilha sonora, supérflua e superdimensionada para um personagem tão caipira, tão humano, tão eu, tão você.

Indicado a: curiosos pela história da humanidade, políticos, socialistas, engajados sociais, humanistas, fãs do Spielberg mesmo em obras como Munique e Amistad.

Contra-indicado a: quem espera algo além do cinema "o cara era bem legal, pena que morre no final".

Para saber tudo: http://www.imdb.com/title/tt0443272

domingo, 20 de janeiro de 2013

O Tempo de Vida de um Chicle de Bola


Tem coisas que o cinema norte-americano faz, há muito tempo, que deveria fazer escola em outras escolas de cinema: o cine-chicle cheio de clichês.

Qual o tempo que um chicle de bola ocupa na sua boca? O mesmo tempo que deve durar seu entretenimento. E o resultado desse consumo? Além de não acrescentar grandes coisas biologicamente, não ter proteínas, carboidratos, ou quaisquer substâncias que realmente sejam substanciais ao seu organismo -  na verdade faz um desserviço dentário e estimula a produção de suco gástrico sem necessidade - o que acontece é que você está exercitando a arte da mastigação, que será muito útil quando for consumir alimentos que... alimentem!

Me perdoem os especialistas da área biológica, mas essa metáfora me explica a "necessidade" de filmes como "O Último Desafio" (The Last Stand - 2013). Um baita exercício da arte de se contar histórias se utilizando do que há de correto na indústria audiovisual: bom elenco, grandes nomes, emergentes com talento, apuro técnico e - lema do entretenimento - divertido.

Num mix de Rota Suicida com Missão Impossível - às avessas - o desfile de clichês ao longo da previsível mas honorável aventura ganha quando não se leva a sério - fazendo isso de forma séria. A identificação com a passagem de tempo do último filme do astro principal (10 anos, sem contar uma participação especial com Jackie Chan há 9 anos), olhando para nós mesmos, é até um bônus para a contação da história, onde autoironia é a palavra-chave do dia.

Você não vai ganhar nada com os 107 min de exposição. Mas também não vai perder.



Ao se tratar de entretenimento, é importante lembrar que empatar tempo já é lucro.

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Se não acrescenta muito, entretém um bocado, e se anuncia como uma ante-sala dos próximos projetos do caricato herói de filmes de ação.

Ah sim: Rodrigo Santoro não atrapalha, mas também não ajuda muito, bem como seu personagem.

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Se não gostar de chicle de bola, vá de pipoca mesmo.

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Para saber as últimas:  http://www.imdb.com/title/tt1549920/

Django com “D” Mudo – e Nada Mais.




Se gosto cinematográfico fosse uma democracia, eu seria voto vencido na questão do prazer em se ver Django.

Um à parte maior que o todo: meu desafio, quando resolvo compartilhar impressões e entendimentos cinematográficos, consiste em estar em duas pontas distintas, simultaneamente, sempre que possível: 1 - estar imerso sobre o universo proposto na tela (impressionismo) e 2 - analisar a obra sobre o entendimento de quem cria, do autor e de sua proposta (lembrando que na maioria das vezes um filme apresenta muitos autores).

Dito isso, estabelecido meu limite, assumo que é impossível, para mim, analisar Django Unchained (2012) sem falar de seu autor – o que, de antemão, faz com que a obra se posicione naquilo que eu chamo de “uma obra fraca”, que busca atender a soberba de seu criador.

Aqui Tarantino faz seu filme mais Tarantino de todos, basicamente uma auto-referência, um tributo autofágico, no seu propor da estética-pela-estética. Paráfrases visuais e estruturas narrativas autorrecorrentes ao longo das quase 3 curtas horas de projeção são um deleite àqueles que buscam nada, absolutamente nada, além daquilo que já esperavam antes mesmo de ver a obra.

O moto-contínuo “referência/tributo + historinha curiosa + violência + humor negro +  referência/tributo + historinha curiosa + violência + humor negro” segue em caravana, ininterruptamente, até o fim da fita.

Nunca Tarantino foi tão Tarantino, tão cópia de si próprio. Nunca foi tão autoral de si mesmo em sua oca criatividade, tão rica em diálogos. Tão talking heads.

E, ainda assim, divertido. Uma obra a serviço do entretenimento. E um desserviço ao cinema enquanto alcunha de “Sétima Arte”.
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P.S.: Um filme, qualquer filme, merece, mais que tudo, ser degustado o mais livre possível de quaisquer preconceito – inclusive livre de trailers, no meu sonho utópico.
Tal qual um evento em nossas vidas.
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O que de bom Django traz para mim, finalmente? Poder me observar e me entender mais na posição de quem busca, acima de tudo, uma boa história.


Para saber tudo sobre: http://www.imdb.com/title/tt1853728/

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

E Tom Cruise Desistiu de Envelhecer



É IMPRESSIONANTE como alguns artistas como Tom Cruise resolveram adquirir um quadro que com certeza está ficando muito velho e acabado em algum quarto secreto de suas mansões! Chega a incomodar todo esse exibicionismo em tela grande, ainda mais quando o filme trata de uma trama mais inventiva e exige uma certa atenção mental, como um filme de investigação.

A história, baseada num livro (que prentendo adquirir) versa sobre uma investigação acerca de um assassino à la atirador de elite e vai se percebendo que há algo de podre a mais pelas cercanias...

Jackie Reacher, personagem que dá nome ao titulo do filme, vem como um justiceiro, cavaleiro solitário, um ser à margem da sociedade.

Personagens dúbios, uma cinematografia impecável e tudo em seu devido lugar permitem que o espectador faça a devida “imersão” no universo diegético.

Filmes com tom detetivesco sempre tem seu charme. Não é diferente aqui: todo o clima (principalmente os primeiros 5 minutos) mostra a força do cinema. Mostra porque cinema é, antes de tudo, IMAGEM. Sem diálogos, a força da montagem nos pega pela mão e nos arremessa diretamente para dentro do evento, do ritual de um personagem.

E uma obra que nos transporta via imagens mostra QUEM de fato os personagens são, não quem eles DIZEM ser. As sutilezas que isso impõe sobre uma trama é a premissa de se ter uma história para contar; pois ou se conta uma história por ter PERSONAGENS interessantes, ou por ter um EVENTO interessante.

E aqui se tem dos dois!

Mas - pasme! - isso não seria suficiente para quem é fã do astro de Hollywood. Infelizmente colocaram açúcar na coca-cola.

Clichês e lugares-comuns parecem ser uma imposição sobre algumas obras – e aqui vem o meu lamento para quando isso acontece sobre um filme que tem uma semente, uma premissa, uma razão-de-ser tão interessante quanto “Jack Reacher - O Último Tiro” (Céus! Lamuriar sobre alguns títulos abrasileirados é inevitável!)

Mais uma obra que o cinema americano mostra do que é capaz tecnicamente, em sua precisão, tão imprecisa em nossa cinematografia nacional.

Mais uma obra que o cinema americano mostra não ter coragem de fazer do jeito certo: respeitando as motivações dos personagens, os moldando devido a uma necessidade estético-plástica.

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A primeira meia hora do filme é deslumbrante (vale DOIS ingressos).
A hora seguinte é MUITO BOA (vale a ida ao cinema).
A última meia hora... ah... acho que já vi isso antes... (vale uma saída rápida para comprar mais pipoca).

Vou ver de novo no cinema, mas com certeza sairei com uma hora de exibição.

E sairei muito satisfeito.

Indicado para: quem gosta de tiros, chutes, socos, suspense, ótima fotografia, excelente montagem, e quer dar um pau em quem é malandro. E quem quer ver o dorso nu e sarado do star.

Para saber tudo: http://www.imdb.com/title/tt0790724/

Avô Engraçado é Pai Que Não Deu Certo



Fiquei surpreso, comigo mesmo, ao perceber que nunca havia visto um filme com Billy Crystal numa sala de cinema.
O comediante que me inspirou muito em “Mr. Saturday Night”, “Amigos, Sempre Amigos” e – principalmente – “Harry e Sally”, dentre outras obras, descobri que sempre me visitou em home video (nem na TV aberta eu devo ter assistido a alguma obra com sua participação.)
Pois bem, foi com uma ansiedade benevolente que fui ver “Uma Família em Apuros” (Parental Guidance - 2012).
As desventuras de um avô e uma avó que precisam passar uma semana com seus netos, entrecortados por um drama familiar (entre pais & filhos), faz dessa obra, que me atrevo a chamar de “comédia republicamericana”, o todo a ser abordado.
Diz uma orientação para escritores e contadores de história que “se queres ser universal, fala de sua aldeia”.
Curiosamente isso não funciona muito bem aqui.
Desapegado da cultura interiorana norte-americana, fica um pouco difícil absorver boa parte das piadas (essa coisa dos filhos irem embora de casa assim que vão para a faculdade; a cultura do beisebol; os compromissos morais e valores tão fora de moda em terras tropicais como a nossa).
Você curte o Billy Crystal, como eu? Vai se divertir um bocado.
Não curte aquela forma tradicional dele entregar as piadas (sempre parece ter uma pausa ao final das piadas, como esperando as “claques”)? Então vai se aborrecer desde o início do filme.
Mas espere! Bete Midler e Marisa Tomei encorpam o elenco – e valorizam e equilibram o drama e o humor.
E as crianças são ótimas! Principalmente a primogênita, interpretada por Bailee Madison.
“Uma Família em Apuros”, de qualquer maneira, é o tipo de filme que sempre deveria estar em cartaz – uma comédia leve, escapista, descartável e aprazível, como uma caminhada no shopping (deveria ter uma lei que obrigasse o circuito comercial a ter sempre um filme assim em cartaz).
Para se ver em tela de qualquer tamanho.

É mais do mesmo.
O que é bom.
O que é ruim.

Mas não decepciona, e entretém.
O que é ótimo.

Indicado para: quem também passa por apuros em família e sabe rir disso.