segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Red 2 é Mais do Mesmo - O que é Ruim... O que é Bom... O Que é Ruim.

A Hollywood do século XXI ainda aguarda um filme de John McLane - digo, de Bruce Willis - que não lembre, em algum momento, que a presença do carismático ator, em cena, não lembre o herói de Duro de Matar (pelo menos do Duro de Matar 3 em diante).

Alguns vislumbres diferenciais foram percebidos em Sin City, Refém e 16 Quadras. Mas isso já tem quase 10 anos em relação a Red 2 - Aposentados e Ainda Mais Perigosos (Red 2 - EUA - 2013), que traz de volta os personagens e a estrutura do primeiro filme, de 2010, que já era, em si, uma releitura de filmes de ação do estilo em que Willis havia se consolidado. Porém aquele contava com uma releitura e estética muito pertinente, entregando um produto bem interessante a um público que consumia - muito bem - a franquia Identidade Bourne e o surpreendente revitalizante Busca Implacável.


Mas, infelizmente, o novo só tem sabor quando consumido com frescor. Sobreviver ou simplesmente revisitar com ótica semelhante qualquer universo incorre em estar muito mais atento e produzir com muito mais acuidade do que quando se fez o "primeiro" filme - que, neste caso, tinha outra mão, megatalentosa, na boleia.

Para o bem ou para o mal a mão do diretor faz muita diferença, quer os produtores concordem ou não disso.

Desencanta ver que Red 2 se apoia estreitamente, enquanto narrativa, no primeiro filme, fazendo quase que uma paródia de si mesmo. Uma autofagia destituída de proteína - no caso, destituída dos sempre necessários elementos surpresa & emoção.

A se valer, em todos os casos, o ingresso, fica por conta do personagem de Helen Mirren, que é o contraponto emotivo-racional ao Marvin-Murdock (sim, o personagem de Malkovich lembrou muito o piloto doido e divertido do Esquadrão Classe A).


Ela, por si só, vale o ingresso. Mas o filme, como um todo, não.

Se é que um filme escapista tenha que valer algo além de sua proposta escapista.


Em tempo: Zeta-Jones e Hopkins, em algum momento, dão as caras no filme.

E só.

Indicado a: quem não esperar muito da continuação do admirável primeiro filme. E descerebrados em geral.

Para saber tudo: http://www.imdb.com/title/tt1821694

domingo, 4 de agosto de 2013

Papai Smurf Sabe Tudo

"Não importa de onde você veio, mas quem você escolhe ser" - esta pérola de sabedoria é dada por uma pequena criatura azul, de barba, para uma outra criatura que questiona sua gênese e sua ânima.

Este momento "Mary Shelley para infantos" é uma jóia rara perdida no universo pastelão de Os Smurfs 2 (The Smurfs 2 - EUA - 2013).


O aproveitamento correto desta obra, no cinema, só se faz em dois aspectos: a vivacidade e credibilidade das pequenas criaturas e do gato Cruel (os humanos no filme são extremamente artificiais) e, com certeza, ter a companhia de um pequeno ao seu lado, um neófito em salas de exibição, que ficará se deslumbrando com uma imersão colorida nesse universo tão divertido.

E, claro, tão repleto de clichês, para quem já viu mais de 3 filmes do gênero.

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O universo mitológico que contém anões é outra jóia ainda a ser trabalhada. A pequenez estrutural se soma à fração de sentimentos humanos (os 7 anões da Branca de Neve, somados, dão a totalidade da identidade emocional humana) e contemplam uma possibilidade infinita de aventuras. Asterix passeia de leve nessa seara, bem como, sob outra frequência, o Pequeno Polegar.

Um aspecto que Os Smurfs ainda devem no cinema. Oportunidade para isso não vai faltar.

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Se você, como eu, odeia não conseguir tirar o "lá-lá-lá" da música tema da cabeça, também irá se divertir com a fúria irracional de Gargamel.
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É com a frase que abre este texto que Jonathan Winters (1925-2013) se despede da voz de Papai Smurf, no áudio original.

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Indicado a: fãs dos personagens de Peyo e criançada em geral, que ainda não passou pelos critérios mais elevados das animações da Pixar e da Dreamworks.

Para saber tudo: http://www.imdb.com/title/tt2017020

domingo, 28 de julho de 2013

Rockshow é Show


Que tal fazer uma viagem no tempo e ficar por duas horas no meio de fãs de um ex-beatle, se deslumbrando com a performance mais-que-perfeita da banda The Wings, se deliciando com melodias e performances pra-lá-de-generosas, e ao final sair enebriado com a sensação de que aquele tempo também é hoje, ao nos depararmos com as possibilidades tecnológicas do pós-modernismo?

Rockshow (Rockshow - EUA - 1980) – propôs isso, na tela gigante de um cinema, em salas e horários especiais, e nos melhores home-theaters das casas de quem sabe o que é bom.

É muito interessante olhar à distância, ou se deixar levar pela passagem do tempo, e ver o desempenho preciso de uma banda que transita muito à vontade pelo limite entre o pop e o rock, sem esconder uma escola jazzista, que se vale do prazer em se estender versões de canções pelo prazer de deixá-las viverem segundos ou minutos a mais além do formato radiofônico comercial (o movimento progressivo mergulhou a fundo essa possibilidade).


O fruto colhido na época - 1976 - por conta da turnê, foi um LP triplo. 4 anos depois viria o video do show, com 1h 40min, e agora restaurado com 2h 14 min.

30 canções. Algumas você não vai (re)conhecer; outras você vai querer cantar junto.

E todas são integralmente executadas com uma energia plena de todos os integrantes - com destaque para o baterista Joe English e o lead guitar, multi-instrumentista e carismático Denny Laine.

Fruto do resultado do movimento de uma época, quase 40 anos depois soa atual.

O que credencia o show, definitivamente, com um clássico.

Indicado a: fãs e não-fãs do bom e velho Macca. Para quem gosta e para quem precisa conhecer o conceito puro do “quem sabe faz ao vivo”.

Quando o Transcriar Preciso é Imperfeito


Dentre os diversos tipos de suporte narrativos, os das chamadas “Sétima Arte” e “Nona Arte” são, disparados, os que mais me atraem.

Seguidos, à uma distância segura, da “Décima Arte”.

E bem distantes da “Segunda Arte” e da “Quarta Arte” – mea culpa.

Digo isso para poder explicar que transpor uma narrativa, de um suporte – ou “arte”, como queira – para outro é, por vezes, uma tarefa de transcriação, como diria Paulo Leminski. Uma tarefa que é uma arte em si – ainda sem categoria reconhecida.

Considerando que a forma de expressão, no caso de uma narrativa, pode banhar-se em seu suporte, fazendo com que as limitações e delimitações de dado suporte se envolvam plenamente desta narrativa, é visível, em casos extremos, da impossibilidade de se levar a mesma história – ipsis literis – para outro suporte, sem correr qualquer risco de perda ou da necessidade de reparação.

Ficar no meio do caminho – não se utilizar de toda a força narrativa que cada suporte pode propor – significa ficar a meio caminho da emoção.

Por mais perfeita que seja essa transcriação.

É o caso do exemplo máximo visto em Wolverine: Imortal (The Wolverine – EUA – 2013), um produto para deleite consumista, com áura de pretensão, e que é, efetivamente, um excelente caso de perfeita transcriação.


Uma obra correta, corretíssima, que coloca personagens e situações que vivem e sobrevivem segundo as regras pré-estabelicidas no universo X-menmarveliano. Uma obra que sobrevive por si só, à revelia das outras 5 obras que tiveram a participação do herói-nervo-exposto; uma obra que permite-se apreciar sem que fosse pré-requisito conhecer a gênese mitológia dos quadrinhos oitentistas de Frank Miller, semente da história.


Mas, como reflexo de se andar no caminho do meio-risco, é um filme que não te tira da poltrona do cinema. Te deixa ali, apreciando os 120 min do filme, sem te fazer esquecer que você está ali, enquanto o filme está lá.
É um jogo seguro, mercadologicamente falando, ter filmes assim na sala de cinema.
Mas fica a sensação de que, se ao empatar não se perde, também não se ganha – logo, se perde outras coisas, como tempo e oportunidade.

E, ao final de qualquer sentimento impressionista que se permite ter ao se deparar com narrativas, como sempre, a ineficiência emocional, que não sai da tela fica sob responsabilidade da falta de empatia junto aos dramas dos personagens.
Logo, irresponsabilidade do roteiro, este sim objeto mais relevante em qualquer demanda transcriativa.

Indicado a: fãs do personagem, curiosos e quem não entendeu o meu texto.

sábado, 13 de julho de 2013

Deus ex Machina - #SóQueNão


Sentar-se passivamente e deixar rolar uma história à sua frente, numa tela grande, com som alto, é permitir-se sonhar um sonho compartilhado. Mas a nossa mente não fica tão passiva assim, a ponto de aceitar tudo como vem; de um jeito que não é possível calar a crítica interna, sempre atenta.

Crítica esta que diz respeito tão-somente à expectativa de se deixar participar emotivamente de dada história, mas com a razão acompanhando ao lado, verificando se a “regra do jogo” está sendo respeitada.
E a “regra do jogo” consiste em se entender que os personagens e o ambiente fazem parte de um mesmo universo – raramente ou quase nunca é esse universo que eu e você habitamos, mas ainda assim um universo com suas próprias regras.

Respeitando-se isso, basta a obra à nossa frente trabalhar somente com nossas emoções.

Eis a fórmula da obra-prima!

Mas – sempre há um mas em meus pensamentos – “sentar-se passivamente” é a busca pelo exercício zen de ter a mente livre, limpa e serena, com a “xícara-devidamente-vazia”, para que se encha satisfatoriamente com o novo que se apresenta à sua frente.

Um exercício que não consegui aplicar quando me reclinei no agradável estofamento do IMAX  e coloquei o par de óculos para desfrutar da hiperrealidade do 3D, pois, assim que o filme começou, me incomodou eu não estar imerso no contexto do filme.

Por duas faltas. Uma minha e outra do exibidor.

Da parte do exibidor a culpa é tripla: a tela é grande demais para um filme que foi rodado em 35 mm, deixando desta forma a imagem “lavada”; o 3D é extremamente fajuto, não justificando ficar duas horas e meia com um par de óculos para desfrutar quase que somente legendas em destaque; e o aspect ratio estava errado no projeção, deixando tudo espichado, e todos os personagens ficaram “um pouco gordinhos” – Laurence Fishburne mais gordo que os outros.

Da minha parte, a culpa maior: a obra de 1978 é extrema e pontualmente marcante em minha memória emotiva (já está distante aquele “sonho compartilhado” que tive numa noite de sábado, na tv, no início dos anos 1980, mais ainda vive livremente entre minhas “memória & imaginação”).

Gostaria de não ter assistido aos dois primeiros filmes estrelados pelo saudoso Christopher Reeve para poder ter apreciado, com todos os méritos, a O Homem de Aço (Man of Steel – EUA – 2013)

Toda cultura de um povo, de uma nação, quando passa por um período de sofrimento, não sabe que aquilo é somente um período, mas parece viver um presente que se extenderá à eternidade.
E a salvação, para um povo que sofre e perece na luta, parece que não virá de outro lugar que não seja do alto, na esperança que um deus maior mande um representante para salvar este povo.
Ora para que a esperança deixe de ser verbo e se transforme em carne.

Uma carne imortal. Ou tão indestrutível quanto o aço.

Ora para que esse deus envie sua maior arma para defender os justos, os menores e sofredores. Ainda que, ao enviar essa divindade encarnada, ela venha a conhecer o suplício da carne e venha temer seu destino.

Isso vale para a ideia que a nação judaica desenvolveu há mais de três mil anos - e que os cristãos acataram há dois mil.
Isso vale para a Terra que tem uma cidade chamada Metrópolis, com um povo que, tal qual o americano médio dos anos 1930, passe pela necessidade de um salvador.

Vale para um povo que não tem em sua história um herói com a referências de força para mudar e transgredir que o povo escocês tem com William Wallace, que o povo francês tem com a figura da Joana D’Arc. Um herói que destõe de seu tempo como japonês tem com Miyamoto Musashi, que o chinês tem com Wong Fei Hung, que o espanhol tem com El Cid, que uma América Latina inteira tem com um Che Guevara, que o brasileiro tem (sim, tem!) com o composto mix de um Tiradentes, Max Wolf Filho, Dom Pedro I, ou mesmo que localmente, de um Barão do Cerro Azul.

São figuras históricas que servem de referência a um povo em momentos de luta e luto.

Mas, para a mente humana, lembrança e imaginação por diversos momentos convivem na mesma sala. 

E a esperança acaba sendo imputada na mente criativa de contadores de história.

Ponto para a raça humana!

E, como força impulsora tanto faz o quanto é real ou imaginário o personagem que habita a conversa entre fiéis. O sucesso de ambos – e outros – arquétipos prova a força de uma linguagem universal.

Lembre-se que o deus-Sol é fonte de força, nos alimenta, revigora nossa vitalidade e esperança, traz vida e mudança, serve até mesmo de alimento, como as palavras de um um deus-pai, ou um sábio-pai. 

Seja ele biológico ou emocional.

É o mesmo Sol que queima vampiros e que dá forças infinitas para quem defende a verdade. 
É o mesmo Sol que ilumina as trevas da alma, joga luz sobre sombras que nos enfraquecem e nos matam.
É o mesmo Sol que alegra um país tropical.

Assim aconte com a Lua, aqui destruída em Kripton, que denota o horror em se matar a imagem da figura materna. E a saudades será eterna, mesmo para um deus-homem que mantém contato com a ideia-pensamento de seu pai.

E é justamente nesse ponto que a sensação de “pertença” do herói com vestes de realeza caminha, ou volita, sobre um muro estreito na obra de Zack Snyder; pois, apesar da diferença com o universo criado para Bruce Wayne na visão turva de Christopher Nolan, onde temos personagens que não se encaixam em seu ambiente (Gotham City, cadê você?), fazendo parecer o cavaleiro das trevas uma figura patética e risível vestindo uma fantasia, o Clark Kent/Superman sutilmente justifica sua figura - e ela também é justificada em seu ambiente – bem como toda sua desenvoltura superfísica – mas o problema é que o povo da Terra/Metrópolis parece não estar tão carente deste herói, nos dias da Metrópolis de hoje (valei-me David Dunn e Hancock!).

Obviamente que todo este meu pensamento é elaborado agora, enquanto escrevo, pois a força narrativa do filme não dá espaço para se perder em divagações em tempo real.


O Homem de Aço é um filme que funcionaria do mesmo jeito – talvez até melhor – mesmo se o filho mais famoso de Krypton na Terra não fizesse parte dele.
Poderia até mesmo ser a mesma história ambientada no universo de zumbis, espartanos, corujas ou internas dentro de um sanatório.
E apesar da força da obra, ainda assim, é uma peça menor, até o momento, do cineasta em atividade que mais me empolga na atualidade, ao lado de Yimou Zhang e dos irmãos Wachowski.

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Crueldade extrema: o início do filme, em Krypton, nos dá o tom de Gladiador + Thor, dá uma passada em Avatar no mundo de John Carter e termina com a plantação de gente de Matrix, com a estética de Prometheus.
E você verá, sim, um gordo Morpheus, onde Neo o salva mais uma vez no último segundo.
(Ver filmes demais, realmente, pode atrapalhar o processo criativo. Seja como realizador, seja como espectador. Não é mesmo, señor Buñuel?)

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Quando um filme-pipoca consegue levantar tantos pontos dispersos, ponto para o filme, que transcende sua proposta.


O título do meu post, a título de curiosidade, refere-se ao conceito Deus Ex Machina

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Um último atrevimento: vou rever o filme no cinema, em 2d, em cinema “normal”. Lembrando de chegar devidamente 20 min atrasado. Não sem antes me deslumbrar novamente com a Krypton do mestre multiversátil Richard Donner.

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Atualização 1 - Faz uma falta extrema a trilha sonora de John Williams, que tem em Superman o tema que mais me anima, além da trilha toda ser deslumbrante - Hans Zimmer continua sendo Hans Zimmer: é o bom-igual de sempre.

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Indicado a: quem nunca viu os filmes da franquia estrelados pelo Christopher Reeve; quem gosta de filmes de ação e não dá tanta importância para a gênese criativa; quem é fã do Superman dos quadrinhos e curtiu um tanto Smalville.

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De Jack Sparrow e Tonto Johnny Depp tem um tanto. Mas um tanto demais para um filme de menos...


A necessidade de indexação a que estamos submetidos permite, sempre, que algumas obras rompam, quebrem, deslumbrem e reinventem gêneros. Não é difícil encontrar dramas que nos fazem rir, aventuras que nos assustam e comédias que nos levam às lágrimas.

Mas para que isso aconteça é preciso contar que a mão do artista se imponha sobre o tronco gelado da indústria.

Procurando ser generoso, colocarei O Cavaleiro Solitário (The Lone Ranger – EUA – 2013) na estante de filmes Fantasia, tentando favorecê-lo como obra menor ao lado de pérolas como O Barão de Munschausen”, As Sete Faces do Dr. Lao (valeu, generoso Neri) e Os 5.000 Dedos do Dr. T.

Mas, diferente destas, o universo concebido para ambientar as desventuras deste icônico personagem é disforme. Toda uma aventura original cai quando se desfila uma série de clichês do subgênero aventura faroeste.
Todo um filme de clichês cai quando se desfila uma série de piadas internas, com momentos-paródia. E nem isso se sustenta quando o nonsense é questionado por uma criança de 10 anos a um índio velho, e enquanto este polvilha migalhas para um pássaro morto, dá às costas para a criança e, por consequência, faz o mesmo com o público.

Claro que, no conforto da poltrona, fica fácil resolver problemas que centenas de profissionais (muito bem) pagos tentaram durante meses, e não conseguiram.

Sei que, futuramente, verei um fanedit recut dessa peça de Gore Verbinski.
Eu mesmo faria duas obras distintas: uma constando todo o humor explícito da obra, excluindo o restante da trama; e outra excluindo todo este humor, fazendo uma lipo do restante da obra.
Mas ambas as versões não teriam o velho Tonto, certamente.

O Cavaleiro Solitário é um filme tonto, feito por tonto, para o Tonto.

Solitário mas não sozinho na busca pelo dinheiro aparentemente fácil que o entretenimento caro parece gerar e devorar.


Indicado a: quem quer ver Jack Sparrow fantasiado de índio e quem não sentiu vergonha alheia em Indiana Jones e a Caveira de Cristal.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Meu Favorito Meu Malvado Favorito é Meu Malvado Favorito 2


Toda história criada sai do zero e caminha em direção à plenitude por uma de duas vias: ou se tem um evento que seja interessante – e a partir daí se busca personagens que dêem vida e credibilidade e charme e o que mais for preciso para essa história ser plena de interesses; ou se concebe personagens interessantes, com características que valem ser conhecidas, reconhecidas, identificadas, reprimidas, desejadas ou rejeitadas  – e aí então se vai atrás de eventos que, de forma original e divertida e casuística e o que mais for preciso, irão revelar elementos que não estão visíveis numa primeira leitura desses caracteres.


É se utilizando desta segunda forma que acontece com Meu Malvado Favorito 2 (Despicable Me 2 - EUA - 2013): o sucesso do primeiro filme acontece – como qualquer coisa que faça sucesso – por fatores somados e também alheios ao desejo do realizador (afinal, todo filme busca o sucesso, mesmo que em seu estreito universo, como os chamados “filmes-de-arte”). E é notório que, para que a “continuação” ganhe vida, ou se faz uma releitura do primeiro filme, ou se revisita os personagens em outros ambientes/situações (ou simplesmente “se continua” a história, como poucos nas cinesséries de sucesso).
É também a segunda forma a opção dos realizadores, que nos envolvem no mundo de Gru, que revela o destemor em se assumir enquanto personalidade, realizando tarefas "por opção e critérios próprios ao coração", mesmo que envolto em situaçãos que exijam "o pior de si".
E tudo é louvável - moralmente falando - quando o fim benevolente se vale de metodologias não tão benevolentes assim (!!!).
Um tipo de personagem que me apraz em ver com outras roupagens.


Vale a diversão, com muita cautela ocular nas sugestões subliminares.

Indicado a: criançada em geral, mesmo que habitem em corpos maduros.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Uma Luz na Escuridão do Cinema de Ficção



Encontrei uma obra rara como ela só: um filme que promete muito, promete demais, alimenta uma ansiedade e tem atrás de si uma “primeira parte”, um primeiro filme muito bem acabado, uma obra muito acima da média.

Uma obra que promete exageradamente muito – e acaba por entregar MAIS!

A cena de abertura de Além da Escuridão - Star Trek (Star Trek Into Darkness - EUA - 2013) por si só vale o dobro do ingresso, pois além de entrar imediamente em ação, faz uma homenagem, quase sutil, quase descarada, para a abertura de Caçadores da Arca Perdida (Raiders of the Lost Ark - EUA - 1981)


A sensação da satisfação em ver personagens que não tem a obrigação de dizerem a que veio – mas que estão em ação O TEMPO TODO, vivenciando cada situação artesanalmente construída no roteiro, conseguiu fazer com que eu me perdesse no meio de uma trama, embriagado pelo deslumbre visual, atônito em entender aonde a trama estava me levando – raramente a obra permite “enxergar do alto”, criando um prazer racional e emocional ao mesmo tempo.


Talvez seja uma obra filha de seu tempo, um zeitgeist febril da efervecência que o sci-fi gera em um público que é, per se, exigente – mas isso só poderá ser devidamente avaliado à distância, temporalmente falando.


Meu título, superlativo, é um elogio ao resultado o J.J. Abrams conseguiu impor a Star Trek II – A Ira de Khan (ops! Este era de outro gênio: Nicholas Meyer!), em detrimento do descartável e desprezível Depois da Terra (After Earth - EUA - 2013) e do quase-ótimo/esquecível Oblivion (Oblivion - EUA - 2013).

O realismo e a naturalidade com que o CGI é impingido por Abrams consegue – quase – reindexar o filme, passando de “Ficção Científica” para “Realismo Fantástico”.

Não é para pouco. E é dos poucos que me rendo ao 3D. Obrigatório para o total aproveitamento do filme.



Indicado a: trekkies, entusiastas pela ficção científica, público de filmes e ação em geral.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Uma Continuação Que... Continua. Como uma vida que não para.


É incrível o prazer que eu posso ainda ter com um cinema simples, feito por gente madura, de realização enxuta e construção complexa – tá, deu para entender o porquê do meu prazer... Mas é que, após ter passado por uma série de filmes rasos, à excessão do quase-perturbador, excelente e incômodo O Lugar Onde Tudo Termina - The Place Beyond The Pines - EUA - 2012) e dos bons pero descartáveis (Em Transe - Trance - UK - 2013 e Terapia de Risco - Side Effects - EUA - 2013), me deparo com o terceiro filme de uma cinesséria que relata algumas horas da vida de um casal:



Antes da Meia-Noite (Before Midnight - EUA - 2013) é obra com gente interpretando gente de verdade, gente que não se encontra nas esquinas da vida, mas nas sombras das relações, entre meias-verdades ditas em meio a meios-sorrisos, em sujeitos presentes que estão com os olhos para o futuro mas com o verbo sendo dito no tempo passado.

O filme se movimenta como um organismo humano, de digestão precisa e reações químicas esperadas e surpreendentes.

É uma obra com o tamanho e a profundidade do homem.

Se revela de forma plena e sintética.

Se expande em direção a um horizonte inevitável e interminável.

Caminha no sentido que a vida se impõe.

Com os pés em movimento, onde um membro revela a pegada que deixou e o mesmo aponta o terreno que irá pisar - enquanto o outro membro todo o corpo sustenta.

É como ouvidos que nada filtram, e ainda separam a informação que é recebida, mandando metade do contexto para a mente, e a outra metade para o coração.

Antes da Meia-Noite é o que acontece entre o entardecer da juventude e o amanhecer da maturidade.

Um preâmbulo da longa noite da alma.

Com direito a todos os colapsos psicológicos pertinentes às resistências percebidas em indivíduos que relutam em mudar e não conseguem deixar de serem eles mesmos.

Tal qual eu.

Tal qual você.

......................

Indicado a: gente madura e sensível. Gente imatura e que ainda tem esperança em, quem sabe, um dia, viver e deixar viver.

Da Universidade Para o Mundo


De todos os aspectos que justificam uma narrativa, a mudança de perspectiva do protagonista, aliada a um rito de passagem, resultando num aprendizado que o modifica, são os elementos mais importantes para que uma história ser passada adiante.

Perdendo somente para a tragédia.

Não que a tragédia não esteja presente em Universidade Monstros (Monsters University - EUA - 2013) – ela está lá, mas não vem à tona, pois não é a camada relevante ao universo retratado.


Entrar em contato com cada filme da Pixar, seja um curta ou seja um longa (o curtametragem O Guarda-Chuva Azul, que antecede o longa, já justifica o ingresso.)

Me pergunto, a cada pequena obra, que nunca é pouca, que a turma da Pixar transforma em vida, o quanto eles realmente se importam com a narrativa, colocando-a acima de qualquer resultado estético (a excessão Carros 2 vem confirmar esta regra).

A história, pregressa à jóia de 2001, transita e percorre uma trilha quase comum, já antevista em outras obras (se assemelhando e se espelhando, estruturalmente, na curiosa comédia A Escolha Perfeita (Pitch Perfect - EUA - 2012). Se assemelha sobremaneira, até que surge uma bifurcação na narrativa, na terça parte final da história, e um dos personagens resolve parar e rever atitudes e diretrizes...


Universidade Monstros, além de divertir, acaba por ensinar – e faz escola, como a – quase – totalidade da filmografia dessas sumidades docentes; um subgênero cinematográfico que é sempre agradável ao grande público.

Transite pelo universo onde todos os persoangens tem algo a aprender e a ensinar – mas saliento que nem todos aprendem o tempo todo, fundamento base de uma boa comédia.


Como sempre, vou aguardar com ansiedade a próxima classe desses professores da narrativa, que se utilizam da lousa virtual e lúdica para continuar a ensinar.

E, como todo filme da Pixar, dispense o uso de óculos 3D e vá ver uma sessão dublada, para seu deleite visual.

Indicado a: TODOS os públicos.

Para saber tudo: http://www.imdb.com/title/tt1453405/

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Um Cine Por Adultos, Pelos Adultos, Para Adultos


Muitas vezes a proposta de um realizador se enquadra com a expectativa do espectador.

Essa talvez seja a melhor maneira de se ver qual é, realmente, o negócio do cinema enquanto... negócio!

Esse pensamento me ocorreu no exato instante em que me pus a discorrer sobre 2 + 2 (Dos más dos – Argentina – 2012) – uma comédia sem ser comédia, um drama sem ser tragédia, uma pornochanchada sem o ser.

Um filme a se pensar a se ter prazer.

Um filme sem muitos pares.

Enquanto recorte de dois pares de vidas, a narrativa da película, se ancora num roteiro que, se não rompe com a clássica narrativa, se envolve e se entorce nela, com pontas de linha muito bem definidas nos atores/personagens que dão, literalmente, vida a um assunto tão íntimo e intimista quanto à vida sexual que cada um tem em si, mesmo que compartilhando com outro.

Mesmo que compartilhando com outros.

Mesmo que, se seu coração emocional está num estado estável, e você é um cirurgião-cardíaco, não consegue dar conta ao coração de quem você ama e por quem é amado.

(Curiosamente as analogias e semiologias inerentes à obra só me foram claras após uma despretenciosa reflexão sobre o filme, após a exibição)

Me pergunto – inevitavelmente o faço – que água benta esses nossos “hermanos” bebem, para tratar de forma tão adulta, mas com uma mão tão lúdica, assuntos tão básicos e primitivos, como o sexo, ficando à margem do tabu – sem mergulhar nessa fonte, tão arisca e tão evitada em nossos meios de comunicação “abertos”.

Ver e rever, para aprender com a forma de se realizar, com a forma de se entender cinema, com a forma de se entender como ser humano.

Raro momento que um filme consegue ser tantos em tão pouco tempo, com tão pouco à mão, além das infinitas possibilidades da interrelação humana.

Por fim, há um certo prazer em afirmar que cinema é, muitas vezes, como sexo: você pode não gostar de fazer, mas, com certeza, gosta de olhar fazer.

Viver é trocar experiências. É vivenciar o prazer. É descobrir seus limites, através de si, e através de outro.

E aí? Que tal encarar uma troca de expectativas cinematográficas?





Tony Stark Além da Armadura de Ferro


Há duas semanas penso em escrever sobre mais essa aventura do herói tecnológico.
Quanto mais o tempo passa, menos isso me interessa.

Menos eu tenho a dizer sobre um filme de ação hollywoodiano, que já não tenha dito, de forma mais completa e ordinária, do que não tenha sido dito.

Mas me resta a parte maior. A parte humana, pois o que mais me interessa é a figura humana que habita o casulo metálico, sob a forma de uma figura imperfeita, deficiente, incompleta e delimitada.

Eis o grande vilão – e por sua vez o grande valor – de Homem de Ferro 3 (Iron Man 3 – EUA – 2013)!

O resto é falcatrua, como a própria história do filme sugere (ops! Eis um anti-spoiler!)


O recurso, inevitável e irresistível, de se propor a um pretenso herói, enquanto convidado a viver uma aventura, passa exatamente na casa dos desafios de superação. E nada mais difícil e desafiador do que a autosuperação.

Eis o que se leva para casa após se ver um grande filme!

A condição humana, enquanto sina de uma ou de múltiplas vidas, sempre nos sugere o Norte do autoconhecimento. É por aí que se passa qualquer narrativa, em qualquer suporte, enquanto razão de perpetuação de uma história a ser recontada.

Eis o que justifica a existência de histórias!

E entretenimento, velado de passatempo, que disfarça o conteiner de um conteúdo que é muito maior que sua forma, é o que faz, de fato, de Homem de Ferro 3, um grande filme.

E eis o que me faz amar a Sétima Arte!

domingo, 7 de abril de 2013

Figura Materna Fora de Prumo - Medo à Vista!


Um dos maiores prazeres que o cinema pode impingir a alma humana é a sensação do medo. Nenhum ambiente é mais favorável para este sentimento do que uma sala escura. Nenhum ambiente é mais controlável do que uma sala escura devidamente controlada, com um objeto que a gente sabe que é pura bobagem, daqui a pouco vai acabar, é tudo mentirinha -  e ainda assim a gente se assusta.


Mama (Espanha/Canadá – 2013) é um ótimo exemplo da exploração deste sentimento.
Não vou me ater ao plot do filme em si, como é de costume meu, para me expandir um pouco no serviço do medo, enquanto narrativa.

Na história do cinema há exemplos, para toda um espectro (!) de possibilidades, de histórias que evocam (!!) o medo. A viagem para dentro de si nem sempre é uma viagem luminosa, e o pouco de luz que se coloca nos cantos que não se transita podem revelar imagens e lembranças que não se sabia ter mais.

1 - Mama é uma viagem para dentro do porão mental do outro, de um outro que não é eu ou você, mas um outro dos mais desagradáveis.

E aí se estreita ainda mais o número de exemplos na cinegrafia.

2 - Contar uma história, sob qual emoção esteja ela ambientada, requer que a estética (pode-se ler “produção” ou “poder de fogo financeiro”) esteja alinhada com o contexto. Ótimos exemplos desse modo de se encontrar um resultado adequado não se encontra em qualquer videolocadora.

E combinar estes dois aspectos é encontrar jóias raras na multidão.

Poderia e gostaria de enumerar alguns exemplos, como Psicose, O Massacre da Serra Elétrica, Atividade Paranormal, O Iluminado, A Morte ao Vivo, Fome Animal, O Sexto Sentido.

Mas devo lembrar que atrás de critérios encontra-se, sempre, o talento de realizadores. E sugiro que se busque entender a mente doente, escura e brilhante de autores/realizadores como Alfred Hitchcock, Stanley Kubrick, Alejandro Amenábar, M. Night Shyamalan, José Mojica Marins, Peter Jackson, Sam Raimi, Paulo Biscaia Filho e, agora, Andrés Muschietti.

Sentar-se e deixar-se embalar por uma história de horror é abrir mão de alguma sanidade, alguma coerência.

Não se agarre à razão da história.
Prefira se agarrar aos braços da poltrona.


Se puder, não veja trailers nem saiba muito sobre a história – que é o menos importante neste filme. Mas não deixe de ver o curta que justificou a produção do longa: https://vimeo.com/10456782

Indicado para quem gosta de sofrer de um voyeurismo catártico e controlado, abrindo mão de um pouco de bom senso.

terça-feira, 12 de março de 2013

O Poderoso e Mágico Mundo da Fantasia

É impossível - ao menos para mim - desvincular o prazer de se ver um filme que tenha como temática uma viagem "real" para um mundo fantástico, com o prazer de se ver num filme onde a metáfora é assumida - um ato um pouco mais presente no cinema atual, "pós-Matrix".

Por isso é um prazer anunciar que Oz: Mágico e Poderoso (Oz The Great And Powerful - EUA - 2012), é um deleite para os sentidos, em todos os sentidos.


Para além de qualquer expectativa que se possa ter - e vejo que muitos, lamentavelmente, se propõem a degustar uma obra "conferindo-se-está-entregando-aquilo-que-estou-esperando" - sobre a "jornada do herói", lembro que, sempre que assumida, é o que o melhor que o cinema, a literatura ou qualquer outro suporte possa dar para o espectador, que está sempre à espera, passivo e ansioso.

É sempre a experiência completa


E Sam Raimi, exímio na arte de contar histórias e mexer com algumas facetas emocionais que o cinema permite, conduz o desafio muito bem.

...

O excesso de malícia que o protagonista carrega em seu coração faz frente com a explosão de sentimentos, nunca velados, que o seu universo (afinal, aquele mundo é, assumidamente, de Oz!) se expõe constantemente.


E sua inteligência de nada serve - a não ser quando está a serviço da... emoção!


A lamentar somente o fato de eu já ter visto - bem mais de uma vez - o filme de 1936.

Mas quem não teve essa experiência, que invejo, pode ter uma visão menos apaixonada pela saga dos personagens deste fabuloso universo.

Mas não menos sensível, eu garanto.

E, como poucas vezes admito, digo sim ao 3D.


Creia-me: saber menos é saborear mais, mas depois de visto, se quiser saber tudo: http://www.imdb.com/title/tt1623205/

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O Lado Bom dos Filmes


Dentre os diversos serviços que a arte se presta, levar a relexão para além da obra é o maior desafio.

Quando se fala em entretenimento, nem sempre/quase nunca se busca/se encontra algo além do descartável.

E quando o produto é fílmico, o desafio é maior, pois nenhum produto mercadológico corre tantos riscos financeiros quanto o da indústria audio-visual direcionada às massas.

Mas a pergunta é: quando uma obra descartável que se presta nos leva a alguma reflexão, dá para dizer que assumiu o status de arte?

Essa questão, para mim, não passa de uma brincadeira de raciocínio mas, ponderando bem, está além da retórica, pois quando o entretenimento nos enleva para além, acidental ou intencionalmente, ele caminha em paralelo com a arte – mas com uma desvantagem sobre este ponto, pois largou de uma distância muito mais além, e tem um espectro de alcance necessariamente quantitativo.

Obras assim, fílmicas ou não, são raras e de valor incalculável, pois o desprendimento de quem está do “lado de lá”, o lado de quem produz, é de se admirar, pois tangencia o “obejtivo fácil” de uma obra descartável, que é de agradar o maior número de pessoas pelo maior tempo possível. Ao mesmo tempo ocorre aqui a permissão do atrevimento autoral que a arte tanto depende, vestidos de uma estética que a obra tanto necessita.

Percebo que minha prateleira está carente de filmes assim. E não são poucos.

Me aproveitei de um mero filme, descartável como qualquer outro; aprazível como poucos nos eternos tempos contemporâneos; composto de diversos valores, como raros; para elaborar este raciocínio.

Para minha própria e grata surpresa.


O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook – EUA – 2012)

Veja, viva, sorria, chore, se entregue, não desista.

Para saber tudo: imdb.com/title/tt1045658