Um dos maiores prazeres que o cinema pode impingir a alma
humana é a sensação do medo. Nenhum ambiente é mais favorável para este
sentimento do que uma sala escura. Nenhum ambiente é mais controlável do que
uma sala escura devidamente controlada, com um objeto que a gente sabe que é pura
bobagem, daqui a pouco vai acabar, é tudo mentirinha - e ainda assim a gente se assusta.
Mama (Espanha/Canadá – 2013) é um ótimo exemplo da
exploração deste sentimento.
Não vou me ater ao plot do filme em si, como é de costume
meu, para me expandir um pouco no serviço do medo, enquanto narrativa.
Na história do cinema há exemplos, para toda um espectro (!)
de possibilidades, de histórias que evocam (!!) o medo. A viagem para dentro de
si nem sempre é uma viagem luminosa, e o pouco de luz que se coloca nos cantos
que não se transita podem revelar imagens e lembranças que não se sabia ter
mais.
1 - Mama é uma viagem para dentro do porão mental do outro,
de um outro que não é eu ou você, mas um outro dos mais desagradáveis.
E aí se estreita ainda mais o número de exemplos na cinegrafia.
2 - Contar uma história, sob qual emoção esteja ela
ambientada, requer que a estética (pode-se ler “produção” ou “poder de fogo
financeiro”) esteja alinhada com o contexto. Ótimos exemplos desse modo de se encontrar
um resultado adequado não se encontra em qualquer videolocadora.
E combinar estes dois aspectos é encontrar jóias raras na
multidão.
Poderia e gostaria de enumerar alguns exemplos, como
Psicose, O Massacre da Serra Elétrica, Atividade Paranormal, O Iluminado, A
Morte ao Vivo, Fome Animal, O Sexto Sentido.
Mas devo lembrar que atrás de critérios encontra-se, sempre,
o talento de realizadores. E sugiro que se busque entender a mente doente,
escura e brilhante de autores/realizadores como Alfred Hitchcock, Stanley
Kubrick, Alejandro Amenábar, M. Night Shyamalan, José Mojica Marins, Peter
Jackson, Sam Raimi, Paulo Biscaia Filho e, agora, Andrés Muschietti.
Sentar-se e deixar-se embalar por uma história de horror é
abrir mão de alguma sanidade, alguma coerência.
Não se agarre à razão da história.
Prefira se agarrar aos
braços da poltrona.
Se puder, não veja trailers nem saiba muito sobre a história
– que é o menos importante neste filme. Mas não deixe de ver o curta que
justificou a produção do longa: https://vimeo.com/10456782
Indicado para quem gosta de sofrer de um voyeurismo catártico e controlado, abrindo mão de um pouco de bom senso.
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