Muitas vezes a proposta de um realizador se enquadra com a
expectativa do espectador.
Essa talvez seja a melhor maneira de se ver qual é,
realmente, o negócio do cinema enquanto... negócio!
Esse pensamento me ocorreu no exato instante em que me pus a
discorrer sobre 2 + 2 (Dos más dos – Argentina – 2012) – uma comédia sem ser
comédia, um drama sem ser tragédia, uma pornochanchada sem o ser.
Um filme a se pensar a se ter prazer.
Um filme sem muitos pares.
Enquanto recorte de dois pares de vidas, a narrativa da
película, se ancora num roteiro que, se não rompe com a clássica narrativa, se
envolve e se entorce nela, com pontas de linha muito bem definidas nos
atores/personagens que dão, literalmente, vida a um assunto tão íntimo e
intimista quanto à vida sexual que cada um tem em si, mesmo que compartilhando
com outro.
Mesmo que compartilhando com outros.
Mesmo que, se seu coração emocional está num estado estável,
e você é um cirurgião-cardíaco, não consegue dar conta ao coração de quem você
ama e por quem é amado.
(Curiosamente as analogias e semiologias inerentes à obra só
me foram claras após uma despretenciosa reflexão sobre o filme, após a
exibição)
Me pergunto – inevitavelmente o faço – que água benta esses
nossos “hermanos” bebem, para tratar de forma tão adulta, mas com uma mão tão
lúdica, assuntos tão básicos e primitivos, como o sexo, ficando à margem do
tabu – sem mergulhar nessa fonte, tão arisca e tão evitada em nossos meios de
comunicação “abertos”.
Ver e rever, para aprender com a forma de se realizar, com a
forma de se entender cinema, com a forma de se entender como ser humano.
Raro momento que um filme consegue ser tantos em tão pouco
tempo, com tão pouco à mão, além das infinitas possibilidades da interrelação
humana.
Por fim, há um certo prazer em afirmar que cinema é, muitas
vezes, como sexo: você pode não gostar de fazer, mas, com certeza, gosta de
olhar fazer.
Viver é trocar experiências. É vivenciar o prazer. É descobrir seus limites, através de si, e através de outro.
E aí? Que tal encarar uma troca de expectativas
cinematográficas?