Aproveitando o tema que o programa Light News, da Transamérica Light de Curitiba, explorou no dia 07/10/11, resolvi criar uma pequena história, um "tributo atrevido", tendo o personagem "diabo" como elemento principal.
De quebra fica a brincadeira de se tentar descobrir qual ator em qual filme personificou os personagens que aparecem na história.
Devo adiantar que "Gabriel", por ser um personagem muito abrangente na filmografia, se trata de Chistopher Walken em "Anjos Rebeldes" - assim fica óbvio, não?
Objetos e lugares também referenciam algumas obras.
O Diabo Não Tem Pressa
Quando o Continental Mack III pegava a saída da Route 66 em direção ao norte, as placas de sinalização não ofereciam muitas opções de cidades que aquela pequena rodovia poderia levar. Amityville, Hobb's End e Orington eram localizações que não constavam em muitos mapas. E um motorista desavisado não perceberia que essa estrada somente levava para essas cidades - veículos raramente eram vistos em sentido contrário, pois não era uma estrada que usualmente trazia.
Mas John Milton, seguro na direção do automóvel, não era um motorista desavisado. Uma vez por semana ele fazia o percurso inverso, ficando seis dias na região - e somente um fora dali, justo no dia que os justos descansam.
Suas mãos seguravam de forma firme o volante. Seus dedos - todos anelados - tamborilavam ao som de Cross Roads, de Robert Johnson. Ele aumentou o som.
- Melhor que a versão de Butler.
Uma voz de mulher, vinda do banco de trás, reclama.
- Ei. O bebê está dormindo!
Jack olha pelo retrovisor. Com uma leve fungada, volta a baixar o som.
A estrada se estreita. Uma placa sinaliza "Salusen's Lost Oasis - quatro milhas".
John olha para o marcador de combustível. Está a um terço da capacidade.
- Vamos ter que encostar pra abastecer. Amanhã terei muito trabalho e madrugarei - ele olha para cima - isso eu aprendi com Ele.
Ajeita o espelho retrovisor. Se olhando, comenta.
- Lembra quando eu estava acima do peso? As pessoas me confundiam com o Louis Cyphre, hahaha - me "confundiam", hahaha.
Um pouco adiante surge um posto de gasolina. Um Plymouth Fury 1958, vermelho, acaba de sair dali.
O carro entra e encosta junto a uma bomba.
John desliga o rádio e sai.
- Vai querer alguma coisa da loja de conveniência?
A mulher do banco de trás é fria.
- Não.
O frentista chega junto.
- Senhor Milton! Completamos?
John olha para o empregado maneta.
- Sim. Como sempre, Ashley.
Entrando na loja, John vai direto ao caixa. Uma mulher, gorda, mal-humorada, o atende.
- O que vai hoje?
- Boa noite... - ele precisa ler o nome dela no crachá - ...Ruth Patchett! Hoje só vou completar o tanque.
Enquanto ela faz as contas, John dá uma olhada geral no ambiente.
Um garoto ruivo está junto à gôndola de revistas. Está roubando uma revista erótica, colocando-a escondida sobre o casaco.
John lamenta para si.
- Junior Healy... ainda a procura de um pai.
Olhando mais ao fundo da loja, na parte do café, está uma mesa ocupada por quatro homens.
Todos estão olhando para John.
Sérios, silenciosos.
Ele se encaminha até eles.
- Frank Black, Jonathan Smith, John Constantine e até tu, Gabriel? O que é isso? Uma cruzada pós-moderna...?
Frank Black corta.
- Só vamos deixar você passar hoje porque estamos aqui por outro motivo. E você está com sua mulher. Sabemos que ela é só uma mulher. Não tem culpa de estar com você.
Gabriel completa.
- Mas nós sabemos a culpa que você tem para estar com ela.
O grupo cai na risada.
- Ha ha ha - desdenha John - vocês são fim de comédia de terror mesmo.
Nesse instante encosta um rabecão junto à loja. Quatro homens saem de dentro.
John se preocupa.
- Jack Torrance, John Robbes, Jerry Dandrige e Coffin Joe. Ainda não são os cavaleiros do apocalipse, mas parece que o motivo de vocês chegou - ou vieram me cobrar algumas contas, de novo.
Constantine recomenda.
- Saia pelos fundos. Seguraremos eles aqui.
John se apressa.
- Obrigado pessoal. E Gabriel: continua bonito, hein!
Gabriel ameaça partir pra cima, mas Jonathan o detém.
John sai da loja, cruzando com o quarteto, entra em seu carro e arranca rápido.
Gritos, tiros, explosões e luzes saem do posto enquanto uma moto Harley-Davidson, sem placa, chega.
- Saí em boa hora.
A mulher olha a moto passar e comenta.
- Johnny Blaze ainda tá tirando teu sono? Achei que você já tinha resolvido isso do mesmo modo que acertou as contas com o Al Simmons.
John suspira.
- Como se fosse fácil assim. Lembra-se do padre Merrin?
O carro entra numa viela, num pequeno bairro residencial.
- Parece que teremos novos vizinhos. Os Lutz saíram às pressas. Um escritor será o novo inquilino - Roger Cobb. Já ouviu falar? Diz que está querendo um pouco de "solitude", hehe. Quero ver se me convidamos ele para um chá. Sutter Cane vai morrer de inveja!
Ele encosta o carro junto a uma elegante casa. Saindo do carro ele abre a porta de trás para a passageira. Aproveita e dá uma breve olhada para a casa do outro lado da rua. Uma freira está na janela do andar de cima. Ela olha para o vazio.
- Alison Parker. O que ela fez com o Charles Chazen foi algo digno de respeito.
A mulher sai do carro.
- Como está o "Hellboy", Rosemary? Já acordou?
Rosemary, segurando o bebê no colo, olha para John.
- Kevin é o nome dele. Sabe que odeio apelidos.
Ela se encaminha para a casa.
John vai atrás.
- É... querida, Jericho Cane ficou de passar me pegar, pra gente fazer tomar umas hoje no bar do John Ryder. Parece que Eugene Martone vai tocar lá.
Rosemary pára junto à soleira, se vira para John Milton e dispara.
- Isso é o que VOCÊ pensa. Dá outra vez soube que Justine Jones e Regan MacNeil estavam por lá a aprontaram das suas. Agora sobe e prepare a água para o banho - e água não-sulfurosa.
Ela entra na casa.
Nuvens tempestuosas se vêem no horizonte, à medida que o sol surge.
John grita.
- Por que, Senhor? PORQUÊ?
Fim
Ahahahah! Bom demais o clima todo. Dá vontade de ler o livro (?) inteiro. Eu, infelizmente, não tenho tanta cultura (e especialmente memória) cinematográfica para entender todas as referências (no máximo uns 30%), mas curti muito.
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